Caixa e BB se juntam aos banqueiros privados para ‘explicar’ reforma trabalhista

02 de agosto 2018
O Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, bancos públicos administrados pelo governo Michel Temer (MDB), estão entre as entidades que patrocinam financeiramente uma série de seminários que têm por finalidade defender os retrocessos e a retirada de direitos pela reforma trabalhista.
Trata-se do “Projeto Articulação Política Pelo Emprego – Jornadas Brasileiras de Relações do Trabalho”, promovido pelo IBEC (Instituto Brasileiro de Ensino e Cultura) em parceria com a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara Federal dos Deputados.
A Caixa confirmou o repasse a esse projeto no montante de R$ 300 mil. O Banco do Brasil também afirmou o patrocínio via BB Seguros, mas se nega a confirmar o valor. As informações foram solicitadas pela FETEC (Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná) por meio da Lei da Transparência (12.527/2011).
“É lamentável que a Caixa, um banco público, que deveria fomentar políticas sociais que beneficiem toda a população, se preste a esse papel de financiar interesses privados, considerando que as alterações na legislação trabalhista beneficiam somente os empresários e visam o lucro e o corte de direitos”, afirma João Paulo Pierozan, representante dos trabalhadores bancários do Paraná nas negociações com a Caixa.
Programação dos seminários distorce pontos prejudiciais da reforma
Divulgada oficialmente pela Câmara Federal como “projeto com objetivo de debater de forma técnica e sem ideologia a aplicação da lei da reforma trabalhista”, a jornada é coordenada pelo deputado Ronaldo Nogueira, ministro do trabalho de Temer na época da aprovação da lei, e prevê em sua programação abordagem direcionada com a participação de Ministros TST (Tribunal Superior do Trabalho), incluindo o ex-presidente Ives Gandra Martins Filho, notório defensor das alterações que prejudicam os trabalhadores e favorecem as empresas.
No final de junho, a FETEC-CUT-PR protocolou pedido à Caixa, Banco do Brasil e Correios, e ainda, junto à Presidência da República, via Lei de Acesso à Informação (12.527/2011), para esclarecer diversas modalidades de patrocínio divulgadas, como “ouro”, “prata”, “platinum” e “master”, além de apoios institucionais de empresas de comunicação e entidades patronais, incluindo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Em resposta, a Caixa, através da Superintendência Nacional de Promoções e Eventos, confirmou que está patrocinando o projeto com R$ 300 mil, equivalentes ao patrocínio master. Com um tópico de “esclarecimento”, o banco contextualiza os eventos com a finalidade de discutir com profundidade as alterações, “assim como debater alternativas de potencialização do crescimento econômico e geração de emprego e renda”.
Apesar de destacar em seu posicionamento a questão da “geração do emprego”, a atual gestão do banco vem agindo de forma contrária desde que está sob a tutela do governo Temer, promovendo reiterados ataques aos trabalhadores, com a redução de milhares de vagas, não realização de concursos públicos para substituir aposentadorias e programas de desligamentos, promovendo piora nas condições de trabalho e dificultando o acesso da população aos serviços bancários até então prestados pela Caixa, especialmente para a camada de baixa renda.
“Isso é um desrespeito com o trabalhador, porque ao mesmo tempo em que a Caixa se posiciona a favor da geração de empregos e do crescimento do país, na mesa de negociação o banco se nega a assinar um Pré-acordo que garanta minimamente a garantia da Convenção Coletiva, nenhuma garantia contra as novas leis trabalhistas”, critica Junior Cesar Dias, presidente da FETEC-CUT-PR.
A Caixa, que é banco público, avançou no fechamento de vagas pós-golpe de 2016, contabilizando 4.794 desligamentos, sem reposição de novos concursados, entre 2017 e 2018, sendo 1.101 somente no primeiro semestre de 2018.
Outro esclarecimento da Caixa sobre o patrocínio, é que ele foi aprovado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, instituição também consultada pela FETEC, que até o momento tem postergado os prazos estabelecidos na Lei da Transparência.
Banco do Brasil confirma patrocínio, mas não informa o valor
Já o Banco do Brasil confirmou o patrocínio, que também é “master”, tal qual o da Caixa, mas decretou sigilo quanto ao valor. A justificativa do banco público para a disponibilização de verba para promover seminários a favor da reforma trabalhista foi mercadológica: de acordo com a gerência executiva da BB Seguros, logo estampada no patrocínio, trata-se de “iniciativa de posicionamento de marca que suporta os objetivos estratégicos da Companhia, tanto do ponto de vista do interesse mercadológico, considerando o público-alvo presente nos eventos e as possibilidades negociais em potencial, quanto do ponto de vista institucional”. A resposta também situou que o valor, não divulgado, possui “alinhamento de mercado” e apresenta “importante pacote de contrapartidas tanto de imagem quanto de inscrições de participação”.
“O Banco do Brasil possui valor estratégico no mercado sim, mas é de fomento à agroecologia, de subsídio ao pequeno agricultor, de promoção à agricultura familiar com acesso ao crédito. Essa mudança brusca de perspectiva sem compromisso social com a população é uma das faces mais desprezíveis do golpe de 2016 e os reflexos disso são sentidos na mesa de negociação, em que os trabalhadores do BB só estão perdendo direitos”, explica Ana Paula Busato, representante dos trabalhadores do BB do Paraná nas negociações com o banco.
O BB Seguros é um braço do banco público para seguros, previdência, capitalização e planos odontológicos oferecidos pelo BB, está se situando como mercadológico, mas ainda assim está submetido à Lei da Transparência via CGU (Controladoria Geral da União), órgão responsável pela centralização dos pedidos de informação sobre o poder público federal, escancarando o viés privado do governo Temer.
A FETEC PR estuda adotar outras medidas que garantam a informação de quanto o Banco do Brasil gastou com essa promoção da “reforma trabalhista”.
Por Paula Zarth Padilha/FETEC-CUT/PR