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"Muitos não conseguem enxergar o papel da mulher negra na construção do país"

"Muitos não conseguem enxergar o papel da mulher negra na construção do país"

15 de março de 2024

Julia Nogueira, secretária de Combate ao Racismo da CUT, fala sobre os desafios do cumprimento da Lei que prevê o ensino de cultura afro-brasileira nas escolas

Foto: Roberto Parizotti


No mês que marcamos as lutas e conquistas por igualdade de gênero, um debate central do movimento de mulheres é a campanha por uma educação que promova a igualdade de raça e gênero dentro das escolas. No quesito raça, já se tem alguns mecanismos, mas cabe entender até que ponto eles estão sendo efetivos. 

Em janeiro de 2023 a Lei 10.639, que incluiu oficialmente nos currículos escolares o ensino de história e cultura afro-brasileiras, completou 20 anos. 

Há o consenso entre movimento negro os educadores e educadoras de que a Lei, em si, já é um importante avanço, inclusive por ser uma demanda do próprio movimento social negro. 

Apesar de observar entraves para a implementação da Lei, a secretária de Combate ao Racismo da CUT, Júlia Nogueira, reconhece que esta é uma questão que expõe outras questões enraizadas na sociedade. 

“Estamos lidando com o nosso escravismo, com a nossa colonialidade, com as hierarquias étnico-raciais, com o mito de democracia racial que tanto mal fez e faz ao país. A Lei foi criada no primeiro governo do presidente Lula e sabemos que é uma ferramenta fundamental do combate ao racismo”, afirmou a secretária. 

É preciso lembrar que a Lei 10.639, na verdade, é uma alteração da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), a maior Lei de educação do Brasil. 

Cabe ao Ministério da Educação a indução de políticas e ferramentas de apoio, mas, como chama a atenção Júlia Nogueira, também a cobrança das redes municipais e estaduais. 

No tópico sobre Igualdade Racial, do Relatório Final do Governo de Transição, avaliou que houve “ausência de acompanhamento, monitoramento e avaliação da Lei sobre o Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena (10.639/03 – 11.645/08)”. 

Esse monitoramento é um dos aspectos fundamentais para avançar na implementação da Lei. “Muitos não conseguem enxergar o papel da mulher negra na construção do país. A força econômica e cultural que os afro-brasileiros representam. Isso para ter uma educação que vá nessa direção, na construção da verdadeira história”, afirma a secretária. 

Entraves


Balanços anteriores da Lei apontavam, por exemplo, deficiências na produção de livros didáticos. E este é um dos aspectos em que se considera que houve avanço. 

Por outro lado, limitar as ações curriculares sobre relações étnico-raciais a datas de referência, como o Dia da Abolição da Escravatura e o Dia da Consciência Negra, são situações ainda observadas nas escolas.

Julia acredita que a não implementação deste aspecto da LDB resulta de uma “miopia” da sociedade brasileira, que se nega a olhar para as questões de raça.

Por Carolina Servio/CUT Nacional

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